sábado, 21 de novembro de 2009

Em Você

Desejo imensamente te encontrar,
Cada minuto de ausência é vida perdida,
Desejo intensamente te abraçar,
Cada momento é nada sem o calor do teu corpo.
Teu beijo é doce como o vinho,
E insanamente viciei-me,
Somente tua pele branca
Pode matar a sede que me mata.
Em meus pensamentos se misturam
Imagens e mais imagens suas
A distância, me chama de bobo
Enquanto a saudade vem me consolar.

sábado, 14 de novembro de 2009

À Margem do Caminho

No meio do caminho havia uma lata

Havia uma lata no meio do caminho

O que a lata continha não sei,

Mas nunca esquecerei do momento

Em que num tiro de meta o poeta,

Chutou a lata pra fora do caminho,

Era um chute-metáfora.

No meio do caminho passou o poeta

E à margem permaneceu imóvel a lata.

sábado, 7 de novembro de 2009

Entre o Útero e a Sepultura



Saí da escuridão do útero
Vou para a escuridão da sepultura,
Entre os dois abismos negros,
Num estreito feixe de luz, eu vivo.

Não sem sentido,
Não como se soubesse o real sentido,
Apenas vivo.

Sigo em plena gestação de alguns poucos anos,
Sendo formado a cada dia no útero da vida,
Lentamente, constantemente, integralmente...

Por vezes me sinto incomodado
E chuto o ventre que me acomoda,
Nestes momentos sinto a mão suave
A acariciar-me e a falar com carinho:
- Calma, filho! Falta pouco para você nascer!

Talvez a palavra “Parto”
Seja irmã da palavra “Partir”.

Espelhos de Deus

Deus é luz !

Nós somos espelhos a refletir Sua luz!

Imagino Deus olhando para mim,

Como uma adolescente que se admira diante do espelho.

Mas há espelhos embaçados de banheiro.

Há espelhos de parque

Que distorcem a realidade em patéticas figuras.

Há espelhos quebrados, sujos, malfeitos...

Um bom espelho faz enxergar os homens e sonhar as crianças.

Poesia Reciclada

Amassei o papel em que tentava em vão escrever um poema,

Depois de um tempo o achei jogado no canto do quarto,

Desembrulhei, refiz alguns versos, reciclei algumas palavras

Transformei imagens antigas e brinquei com as velhas idéias...

Nunca jogue fora um poema,

Ele levará uma eternidade para se decompor.

Um poema pode ser reutilizado infinitas vezes.

E assim virar estrume, adubo, semente, caule, galhos,

Folhas, fruto, flor...

e eis um novo poema!

Não jogue fora um poema

Há vida naquele mínimo momento eterno!

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Logos

Adoro a Palavra de carne e sangue
Que pariu a luz
Na força de uma única palavra:
Haja!

Adoro a Palavra ensangüentada,
Transpassada, abandonada...
Que silenciosamente calou a morte
E fez gritar a vida.

Adoro a Palavra alvissareira
Arauto das boas notícias
A derramar verdade
Sobre nossas cabeças.

Simplesmente adoro a Palavra.

domingo, 21 de junho de 2009

Hoje

Meu presente hoje
É tão somente, viver o presente
Usar o dom recebido
Graciosamente.
Como o maná no deserto
Provisão diária
Que mata a fome
Diariamente,
O hoje apodrece se guardado
Enche de mofo se estocado.

Hoje é o tempo
De recriar anseios perdidos,E Costurar sonhos rasgados.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Ânimo

Meus pecados são tantos, Senhor!
Sou tão humano!

Mas a cada queda
Como um pai
Ajudando seu filho em seus primeiros passinhos,
Desenha-se o sorriso em seu rosto.

Levanto e tento outra vez,
E quantas vezes for preciso.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Gotas de Sol

Gotas de sol
Pingam na janela,
Deságuam cascatas de luz.
Chega Aurora
Vestida de céu
E me tira pra dançar.

Recebo de presente
Um sonho
Embrulhado
Generosamente
Em papel de seda esfuziante.

Recheio de imagens,
Duas vezes cheio de imagens
Meu presente
Faz enxergar os homens e sonhar as crianças

sexta-feira, 29 de maio de 2009

O Poeta e a estrela

Ao contemplar a estrela
Deus chorava sozinho
E molhava a noite de sal.

As lágrimas que caiam
Espelhavam o infinito brilho
Enchendo a noite de sol.

Sal e sol se misturavam
Condensados ao brilho
Surgindo o primeiro mar.

Do mar então veio a terra,
Da terra as plantas e bichos
Parindo vida e sentido.

Diante de tanta beleza
O Deus poeta tão só,
Ansiou compartilhar.

E num rompante de poesia
Imerso em imensa alegria
Criou o homem e a mulher

Parecia que agora
Deus teria companhia
Para olhar a estrela,

Mas a mulher e o homem
Não enxergaram a poesia
De um bate-papo com Deus.

Porém a solidão do criador
Não é solidão humana,
Não se cansa de esperar.

Assim sempre que alguém,
Aquela estrela admira
Vira Poeta e amigo de Deus.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Cumulus Nimbus

Gosto de fotografar o céu,
Azul ou nublado, tanto faz!
Só faço questão que lá estejam as nuvens.
Não há nada mais instigante do que nuvens no infinito.

Grandes torres de algodão
A esconder tempestades.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Inspiração na contra mão

Via a Palavra inerte sobre a mesa
Como única rosa vermelha
Num vaso simples
Sobre o aparador de pano.

Via a Palavra pálida sobre a mesa
Como um cravo branco
Posicionado solto,
Observando os mortos ao redor.

Palavra fugidia, arredias idéias,
Pensamentos ariscos, rabiscos no papel,
Rio de tinta represado, sonho balão,
Pena levada pelo vento solta no céu.

Via a palavra sobre a mesa
E a inspiração na contra mão

sábado, 23 de maio de 2009

Madrugada Morna

Acordo na madrugada morna, os olhos estão chumbados, mas a mente em turbilhão ricocheteia entre os oito cantos do quarto. O ziguezaguear me deixa tonto e perplexo. Pergunto: o que fazer? Minha pergunta volta em um infinito ecoar de cachoeira.

Olho em volta e me detenho em duas pequenas mariposas que voam freneticamente em volta de um sol-miragem ao lado da cama. Jogo pro lado o travesseiro e atravesso o tempo a observar a ilusão da falsa luz que não as leva a lugar algum. Persigo a mesma utopia. Sou apenas mais um inseto neste mundo de sapos! Ouço novamente os ecos de meus questionamentos.

Levanto, sigo desnorteado pelo corredor como quem foge de uma prisão, mas ainda me sinto preso. Tomo um copo d’água, a sede continua. Continua e nua, sede de não sei que.

Pela janela, entre as grades, observo os poucos carros que passam quebrando a monotonia da madrugada. De onde eles estão vindo? Prá onde será que irão? Meu Deus! Nem sei de mim, por que ainda me preocupo com tais coisas? Olho prá rua como Narciso em frente ao espelho! Olho pra mim como a enfrentar a esfinge, decifra-me ou te devoro!

Volto pro quarto, arrumo os travesseiros, tento espantar a insônia que insiste em me chamar pra briga, olho pro lado e vejo as mariposas caídas ao lado do abajur, cadavérico fim de uma busca sem sentido algum.

A insônia persiste, é forte. Mas eu também serei forte quando brilhar o primeiro raio de sol da aurora. Eu também serei forte quando a verdadeira luz entrar por entre as frestas da cortina.

domingo, 26 de abril de 2009

Banzo

Minha mãe fazia acrobacias com pedrinhas,
Às vezes com laranjas,
Outras vezes com os sete filhos.

Cantava quase o dia inteiro,
Gostava de dançar
E escrevia nos seus diários aquilo que lhe vinha à mente.

Tinha um álbum de postais
Onde curtia o banzo da terra Natal
E a alegria de eternas lembranças.

Fazia um pudim de pão
Simples,
Mas com gosto de mãe.

Um dia ela me mostrou Deus
E algum dia, eu sei,
Deus me mostrará novamente ela.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Marulho

Pode-se ouvir em qualquer lugar
O barulho do marulho da praia
Se colar seu ouvido na concha do caracol.

Pode-se ouvir, ainda que vagamente,
O borbulhar de espuma e sal,
Das vagas batendo na areia da mente

Quem sabe isto seria de sorte,
A poesia do caracol,
Pulsando eterna após a sua morte?

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Poema inacabado

Toda vez que lia aquele poema no caderno
Sentia uma mistura de alegria por telo escrito
e tristeza por não terminá-lo.

Um dia acrescentava versos,
Em outros suprimia estrofes inteiras
Por puro descontentamento.

E poema permanecia imóvel.

Estático como o poste na frente da minha janela
Transpassado por energia imensa
e ali, sem reação nenhuma.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Na margem da página

Na margem da página, como na margem de um rio,
Tenta em vão o poeta pescar palavras,
Enquanto estas insistem em nadar pra outra margem
É dura a vida de pescador!

Na outra margem, sem pressa,
Outro poeta, não pesca, apenas contempla
O incrível nado sincronizado
De centenas de palavras.

Não quer capturá-las, as palavras devem ser livres,
( Apenas contempla extasiado )
E as imagens seguem nadando da sua cabeça
Para a margem do papel.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Minha poesia não presta

Minha poesia não presta
Não presta como entretenimento
Não presta para liberar meus fantasmas
Não presta para cantar canções
Não presta para rir, nem chorar.

Minha poesia não presta.
Não serve, não se aproveita,
Não se adapta, não é útil,

Minha poesia não é nada se for só minha,
Pois se eu achar que o que vem de mim é meu,
Pode ter certeza: a poesia desapareceu!

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Amar é dar

O amor não se guarda em cofre como um tesouro intocável,
O amor não se canta em odes de versos sentimentais,
O amor não está nas flores entregues como desculpa,
Amor que só se sente não está nem perto de ser amor.

Creio no amor atitude
Creio no amor ação
Que se doa sem limite
Que se dá sem contenção

Amor de um gesto simples
das pequenas coisas do dia a dia
Capaz de criar um sorriso
Apenas com um olhar.

O amor que não tem medo,
Que não tem pressa,
Que não se ofende em esperar,
Que se alegra apenas com o fato de amar.

O amor não tem, ele sempre é tido.
Amar é dar, dar, dar...

sábado, 11 de abril de 2009

Poesia com cheiro

A dança de aromas que invade a feira
Me embriaga o olfato com lembranças,
Odores que brincam entre as barracas abarrotadas
Como crianças entre os brinquedos do parque.

Quem me dera escrever uma poesia com cheiro!
Quem me dera expressar nestes versos
A multidão de fragrâncias que me abraçam!
Invisível milagre olfativo.

Lista 1

A Espécie,
O esperma,
A espera,
O espirro,
O espaço,
O espelho
A espinha
A espingarda
A espreita,
O espírito,
O espectro,
O Espectorante...

A organização das listas é em si uma procura,
Uma busca frenética em meio ao caos não aparente.

sábado, 14 de março de 2009

Desconstruções

I

Afirmativamente!
Afirma ativa, a mente.
Afirma a ti vagamente...
Mente!

II

Solidariedade.
Sólida idade.
Só lida e idade,
Só...

sexta-feira, 13 de março de 2009

Sem cêra / Sincera

Sob o foco da luz a cera se derrete
Gota a gota, deixando à vista as imperfeições,
Falhas, fissuras e arranhões.

Rasga-se o véu da hipocrisia e o que se vê é verdade,
Sem máscaras, nem vaidade,
a humanidade nua desfila no centro do palco.

A Beleza que surge da luz
É a mesma beleza de um vaso gasto pelo tempo,
E que perdeu os traços de fino acabamento.

Anacronicamente escondemos nossas imperfeições,
Sem nos dar conta que o belo,
Na ótica de Deus, é justamente o contrário.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Entre a Tensão e o Alvo

Atiro uma flecha no alvo
E a certeira flecha descansa,
Aguarda o momento
Em que novamente empunhada
E tensionada entre a corda e o arco,
Se lançará novamente no ar.

Estou certo que para a seta,
Mais importante que a meta atingida,
É o caminho.
Entre a tensão e o alvo
Existe um breve espaço de tempo
Que se chama liberdade.

Atiro a palavra no alvo
E neste instante ela é livre...
Só palavra nua,
desprovida de explicações.

Entre o falar e o ouvir
Existe o ínfimo momento
Em que a palavra voa solta pelo ar.

Câmera lenta é a poesia a nos permitir contemplar tais lapsos.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Os Passáros da árvore centenária

Começo de tarde, mais uma vez os pássaros se reuniam à sombra da árvore centenária.
Ouvia-se cantos diversos, de versos que faziam cosquinha nos ouvidos. Ouvia-se cantos alegres, cantos tristes, cantos cheios de ironia... e uma chuva de poesia encharcava nossas almas.
Fim de tarde, um pássaro mais agitado resolveu chamar seu bando para voar em outro prado, lá pro lado dos Quintanares, onde tinha cheiro de erva-doce e alecrim.
Chegando lá, o belo prado já estava ocupado por outro bando de pássaros, um pouco diferente daqueles, mas que também celebravam a vida ao som do flautim.
Assim os pássaros canoros continuaram voando, para lá e para cá, a procura de um novo canto para passar a noite.
Sem grande sucesso, um a um, os pássaros mais cansados foram desistindo, até sobrarem apenas três, que quando deram por si haviam voltado à arvore centenária de origem.
Mesmo em canto conhecido os três ainda puderam com surpreendente encanto, presenciar o desfile de aves-do-paraíso que chegavam arrumadinhas e tremeluzentes para mais um baile de gala na floresta.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Tecla Esc

Por toda escuridão que cai como escama sobre os olhos,
Por toda esquizofrenia que escava e escraviza a mente.
Por toda excreção que escapa, escarra e escorre
Neste rio de escatológica humanidade.

Por tudo que é escroto, escabroso, escondido e esquisito,
Por tudo que é esculachado, esculhambado e excluído
Que escamoteia, que escalavra, que escandaliza,
Que escancara, que escangalha, que escapole pro escanteio.

Por tudo isto escrevo,
Como se a poesia fosse a tecla “Esc”
Para todos os males da vida.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Nada

Nada pra dizer...
(Palavras soltas)
Nada pra escrever...
(Versos mortos)
Nada pra cantar...
(Voz rouca)
Nada pra pensar...
(Ânsia louca)
As vezes o nada é tudo!
As Vezes o nada é tudo o que tenho.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Poesia X Lógica

A Poesia nada mais é do que uma falha da mente lógica. Uma falha que acaricia ou esmurra os nossos sentimentos.
Quando eu digo o mais banal “mar de rosas” , sei que isto é ilógico, mas digo sonhando com a existência de tal mar, só para mais tarde poder dizer:
“...E por viver num mar de rosas
Além de estar todo arranhado,
Quase que morro afogado!”

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Cinco

Cinco sentimentos
Negros, brancos ou sem cor,
Com cores frias e quentes
Que excitam a retina.

Cinco sentimentos
Com cheiro de humanidade,
(Às vezes insuportável!)
a embriagar minhas narinas.

Cinco sentimentos
De gosto doce, salgado e amargo
Tudo ao mesmo tempo
Grudando no céu da boca da mente.

Cinco sentimentos
Que irritam e afagam a pele
Como carícia suave
Ou como chute entre as pernas.

Cinco sentimentos
Pois entre o silêncio que incomoda o ouvido
E o barulho que faz a paz
Existe música.

sábado, 31 de janeiro de 2009

Bate na panela

Bate na panela
A panela tá vazia,
Bate na panela
Deixa a fome pra depois,
Bate na panela
extravasa essa alegria,
Bate na panela
Mesmo que vazia,
Bate na panela
Já que a vida vem bater
Na panela que é você!

O Julgamento do Tempo

A Dúvida pariu o Remorso,
E a Certeza o Arrependimento.
O Remorso morreu de noite,
Deixando a mãe em tal desalento.

Que sem filho e sem chão,
Igualmente ao julgamento de Salomão,
Disse que o Arrependimento era seu,
E que o filho da outra foi quem morreu.

Tal qual na história, a Certeza,
Em favor da criança, abriu mão.
Preterindo a razão em favor de sua cria.

E o Tempo, juiz de extrema esperteza,
Reconhecendo a mãe pela ação,
Mais uma justiça fazia.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Sem graça

O poeta ficou só
A espera de outros poetas,
Sua poesia emudeceu
E cessaram as canções...

Poesia é como viagens
que se faz atrás do lugar perfeito,
Quando se chega lá sozinho
A graça já viajou para outros cantos.

Ai só me restam as fotografias...

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

O Cabo da Enxada

Sou da cor da terra
Pois da terra fui Criado
Como a flor da primavera
que brota no campo arado.

Ai de mim se fosse mato
não durava muito tempo
não cumpria o meu intento
não seria o que sou

Ai de mim se fosse mato
logo a vida era ceifada
pela foice do desprezo
ou pelo fogo da queimada.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Dois assaltos e uma piada

Mãe e filha entram numa lojinha de conveniências a busca de um miojo para quebrar um galho no jantar.
Após breve procura, encontram o pacotinho do macarrão oriental ao mesmo tempo que um sujeito armado entra na loja, se aproxima do caixa e inicia o crime.
A filha assustada ao perceber o fato, aciona a mãe:
- Mãe, é um assalto!
A Mãe com o pacote de Miojo na mão,mesmo atenta ao acontecido, pra não perder a piada, responde:
- É mesmo,minha filha, este macarrão está um assalto!
Finalizado o assalto ambas saem da lojinha rindo com mais uma história engraçada para contar.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Esta casa

A Porta está fechada pode entrar se quiser...
Se quiser..., a porta está entreaberta, pode entrar...
A Porta está aberta... entra...
Tem janelas bem grandes, dá para ver a rua!

Pode sentar no sofá, pode tomar um café...
Pode deitar na minha cama... vem... se quiser...
Só não vá embora de repente
Nem me deixe aqui sozinho, tenho medo!

Esta casa é tudo que tenho
E ao mesmo tempo é ela que me prende...
A porta está fechada...

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Jogo da memória

(Vamos Jogar...)


Memória
Esquecimento
Lembrança
E distração.

Me molha
Esquece o tempo
Alcança
Desconstrução.

Me olha
Tece o momento
Me toca
Na solidão.

Caminha
De encontro ao vento
Engana
A percepção.

Traduz
O que está por dentro
Avança
À ilusão.

Memória
De encontro ao vento
Alcança
O meu porão.

Me olha
O que está por dentro
Me toca
A percepção.

( Continue o jogo...)

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Ciclo

Já fui sólido
Um dia derreti
agora estou a ponto de evaporar
e recomeçar o ciclo

Já fui nuvem
Já fui mar
Agora sou apenas um iceberg no oceano.
E novamente me derreto.

Solidez Solidão

domingo, 4 de janeiro de 2009

O Feirante

Acordou cedo, como fazia todos os dias. Ainda se viam as estrelas decorando o céu bonito que emoldurava a pequena fazenda, O céu estava enluarado, do tipo que dá vontade de cantar uma moda de viola sentado a beira da fogueira com os amigos.
  A fazenda era simples, porém cuidada com muito carinho: uma pequena casa de pau a pique modesta, mas limpa, onde viviam ele, sua esposa e seus cinco filhos, o maior com sete anos e o menor ainda nos peitos da mãe.
 Ao lado da casa havia uma roça, onde plantava a comida do dia a dia, verduras e legumes variados que rendiam pro ano todo, e nos fundos da propriedade um pomar modesto onde colhia frutas diversas: goiaba, pitanga, sapoti, graviola jabotica, seriguela, genipapo e muitas outras preciosidades, este era o local da fazenda que mais gostava, lá, sempre que tinha um tempo, sentava ao pé de uma árvore, geralmente aquela que estivesse com os frutos de vez e ficava se deleitando com o cheiro daquelas frutas que entravam por suas narinas e lhe traziam imenso prazer, sentimento que era transformado em curtas orações de agradecimento a Deus.
 Mas naquela madrugada a lida era apressada, era dia de feira, onde vendia os poucos produtos que sobravam de sua fazenda, era com a escassa renda que comprava uma roupa para a mulher e as crianças e alguma coisa a mais para o dia a dia.
  A mula, que lhe servia de auxílio na longa caminhada semanal para a feira morrera poucos dias antes, pegou uma peste “braba” e não teve jeito, lhe sobrava agora apenas a sua força para encarar sozinho aquela jornada de quase dez quilômetros até a cidade.
Tomou um gole de café que acabara de fazer no coador de pano, comeu uma tapioca salgada que a mulher havia lhe preparado na noite anterior, no pequeno farnel levava um pouco de paçoca de carne de sol e farinha que seria o seu almoço daquele dia. Mordeu um pedaço de rapadura que lhe doeu os dentes da frente e lembrou-se do ditado: “Rapadura é doce mais não é mole não!” não entendeu bem por que lembrou disso.  Havia ao lado da mesa dois balaios unidos por um pedaço de madeira bem forte, com dois pedaços de couro velho e macio de cada lado, para amenizar o roçar da cangalha quando fosse  colocada nos seus ombros,  dentro de um balaio ia o genipapo colhido na sexta-feira, o cheiro da fruta se espalhava pela casa e ele lembrava dos tempos em que passou no pomar conversando com Deus e fazia uma curta oração bem baixinho enquanto arrumava suas tralhas. No outro balaio ia a farinha feita com a macaxeira no pilão velho de sua propriedade, e que ele guardava na fazenda para vender na feira.
 Colocou a botina no pé calejado e pôs a cangalha nos ombros, eram quase cinquenta quilos de peso, mas ele era forte, tinha aquela fortaleza adquirida na lida de sol a sol, construída no cabo da enxada.
   Seguiu na estrada de barro que levava até a cidade, a primeira hora foi tranquila o peso era muito, mas o cansaço ainda não era tão grande e a noite ainda cobria o seu caminho, mas aos poucos, como acompanhando os primeiros raios de sol, se ouvia o som dos pássaros, bem perto um curió dava seus gorjeios suaves, e aquela melodia lhe dava alegria e animo para continuar a caminhada.
 Quando  o sol se apoderou da escuridão, já se via no matagal a festa dos papa-capins e na copa das arvores os periquitos tuins fazerem a bagunça característica e isto lhe enchia o coração de esperança mesmo com peso que já começava a cansar suas costas tão sofridas, o couro macio nas hastes da cangalha parecia não fazer mais efeito algum e a dor já lhe fazia companhia na caminhada.
  Para descansar um pouco baixou a cangalha no chão e pensou na vida sofrida que levava, uma lágrima tentava rolar de seus olhos e era logo impedida pela sua dureza da roça, olhou então à frente, no topo de uma velha árvore, na beira da estrada, um casal de joão de barro, seu ninho simples e bem construído , e seu filhotinho já quase na época de dar ou seu primeiro vôo, pensou em sua família e novamente agradeceu a Deus de forma silenciosa. Pôs a cangalha na cacunda já ferida e seguiu seu caminho.
  Em pouco tempo o sol , antes suave, já lhe ardia a nuca e a testa , apesar do chapéu de palha a lhe cobrir a fronte. Olhou para o céu como a admirar, mas na verdade estava preocupado com o movimento das nuvens que indicava que viria chuva, e olha que em prever chuva ele era bom, sabedoria aprendida com seu falecido pai, pensou então em adiantar o passo já que carregava farinha no balaio e se pegasse chuva a farinha molhada não serviria mais para nada, “farinha boa se molhar não presta!”, e isto já havia acontecido algumas vezes e era sinônimo de falta de carne na mesa naquela semana, orou baixinho como de costume e prosseguiu sua dura jornada, agora de forma mais apressada e dolorida.
   Três horas de sofrimento pela longa caminhada com tanto peso nas costas se desfizeram como por milagre quando entrou na cidade e ainda cedo ajustou seus produtos no chão da pequena feira, a chuva foi só ameaça graças a Deus e não espantou o povo da feira, assim em pouco tempo a feira estava cheia de gente, com cantadores com seus cordéis já emitiam os primeiros versos que espalhavam poesia naquele ambiente de gente tão sofrida.
  Passado o dia, chegando o fim da feira, a farinha e o genipapo já estavam vendidos. Ele já havia comprado um vestidinho bonito pra mulher, umas peças pras crianças e algumas coisas a mais.
 Então como de costume foi até a barraca verde e enfeitada de forma vistosa no final da feira, que era de um compadre seu, um homem sorridente e com aparência de bonachão.
   Após uns dedos de prosa o homem lhe ofereceu que escolhesse um dos doces de sua quitanda, e ele pegou um sonho de açúcar mascavo embrulhado cuidadosamente num papel de seda azul, seus olhos se encheram de brilho, suas forças retornavam e como num filme de cinema se lembrou de toda aquela jornada da fazenda até a feira, passou a mão nas feridas em suas costas, a dor ainda se fazia presente, mas mesmo assim um sorriso lhe veio nos lábios ao mesmo tempo que mordia o primeiro pedaço do sonho.
 Naquele momento toda sua vida e aquela dura jornada se cobriam de sentido e ele mais uma vez em silêncio agradeceu a Deus.

(Baseado na canção "O Feirante" gravada por João Alexandre)

sábado, 3 de janeiro de 2009

Calçadas de Curitiba

As Calçadas de Curitiba
Com suas pedras irregulares
Em luta eterna com as mulheres
Em seus saltos de “arranha-ares”.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Faz sentido!

Posso fechar os olhos para tudo o que não quero,
Posso cerrar os lábios, não comer, não beber,
não beijar,não falar...
Só meus ouvidos me obrigam, de forma tão servil,
A ouvir conversas que não me dizem nada.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Dois Mários e um Manuel

Para conter tais poetas
Serão pequenas as antologias.
Quando se tem passárgada ,
Anjo torto ou Anjo Malaquias...
Seria muito mais adequado
se existissem Angelologias.
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