domingo, 20 de novembro de 2011

Vida


Se os dias se vão em vão
A vida é só um vão,
Um buraco, um abismo,
Entre o útero e o caixão.

É semente que não germina,
É a luz sem a retina,
É boneca sem menina,
Neblina que a brisa dissipou.

É o verso não escrito,
Não lembrado e não dito,
É o eco sem o grito,
É o barco que a onda naufragou.

Se os dias se vão em vão
A vida é só um vão,
Um buraco, um abismo,
Entre o útero e o caixão.

É a esperança no passado,
É a cama sem estrado,
É o outro lado da ponte
que a gente nunca atravessou.

É a fama do indigente,
Provisório permanente,
Microscópio sem a lente,
Que aumente o tempo 
          que a vida nos legou.

Se os dias se vão em vão
A vida é só um vão,
Um buraco, um abismo,
Entre o útero e o caixão.

Vida é pra ser vivida...
Vida é pra ser servida...
Vida é pra ser só vida...
Sorvida por quem precisar...
Servida pra quem precisar...
Ser vida...

Idas e Vindas

Quando perco a hora chego atrasado,
Quando perco moeda não tenho trocado,
Quando perco a calma, eu fico irado,
Quando perco a paz, estou estressado.


Quando perco a saúde, caio adoentado,
Quando perco uma chance, desanimado,
Quando perco a leveza, angustiado,
Quando perco a Coragem, amedrontado.


Quando perco meu tempo, entediado,
Quando perco o rumo, desnorteado,
Quando perco um amigo, magoado,
Quando perco a poesia, enxergo nublado.


Nessas idas e vindas
Às vezes eu me perco de mim

segunda-feira, 25 de abril de 2011

O Milagre da Multiplicação

Graça
Pode ser apenas um nome
De uma menina que tentou se matar...

Graça
Pode estar nos olhos de um homem
Que reúne a família sem ter o que comer...

Graça
Pode ser provada por uma mulher
Que é perdoada, mesmo sem ter pedido perdão...

Graça
Pode surpreender o assassino
Que recebe amor 
daquele que tinha todo o direito à vingança...

Graça
Pode sentir o que sofre com a culpa
Quando sem fazer ou merecer nada,  
Se torna finalmente livre...

Mas eles só receberão a Graça
Se você repartir a Graça que já recebeu.
Pois a Graça é como o pão da multiplicação,
Precisa ser passada de mão em mão 
Para que o milagre aconteça.

domingo, 10 de abril de 2011

Borboleta

Borboleta é um poema vestido de sol,
Sol é o sorriso do céu,
Céu a noite são estrelas indo à festa,
Festa faz meu coração quando vê a borboleta.

Passarinho é  sonho de asas,
Asas são meus pensamentos quando vejo o mar,
Mar são os olhos da criança,
Criança é passarinho que aprendeu a voar.

Semente é a vida que se deve plantar,
Planta é  horizonte que ficou de pé,
De pé caminho contente pelo chão,
Chão é casa da semente...
Do passarinho e da borboleta

domingo, 27 de março de 2011

Sobre a Amizade

A verdadeira amizade
Deixa marcas que não se apagam,
Nem pelo tempo, nem pela distância.

Marcas desenhadas
Não por grandes acontecimentos
Ou coisas extravagantes.

Marcas que surgem
Nas pequenas coisas,
Nos gestos feitos sem pretensão.

Na ajuda, no abraço, na presença,
Na palavra, no sorriso, no olhar...
Em coisas que fizemos e nem lembramos mais.

Nestes gestos imperceptíveis
(aos nossos olhos)
É que deixamos marcas e somos marcados.

Como se nossos amigos fossem lápis
Nas mãos de Deus
Enquanto Ele Desenha em nós o que somos.

O que sou é a expressão de cada amigo
Que passou por mim e me acolheu
No abrigo de sua amizade.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Passarinho

Um sabiá bateu na minha janela
A pancada foi tanta que deixou a marca do passarinho:
Asas, penas, bico... todos os detalhes, 
Como uma gravura de cordel, ficaram lá.

Não soube se o bicho morreu 
Ou se tá vivo por aí,
Mas sei que esteve aqui 
E deu de cara no vidro.

Passei a semana olhando para o desenho
Admirando aquela figura delicada
Até que a chuva levou embora a imagem.

Fico pensando se a poesia
Que vem a dar de cara com minha janela
Não seria como aquele passarinho,
Pois dela eu só vejo a gravura
Estampada numa folha de papel.

E nem sei se ainda vive 
A verdade que gerou aqueles versos
Mas sei que suas marcas estão ali,
Marcas da verdade na minha vidraça de papel
Até que a chuva apague.

Triste Sorte

Num jardim qualquer,
Entre as pétalas de uma flor
Uma abelha atrasada se debate.

Presa naquela flor insensível
Ela luta a noite inteira,
Se exaurindo até a morte.

Nasce o dia, se abre a flor
E o corpo imóvel do inseto
No vão se decompõe.

Triste sorte da abelha
Morreu nos braços do seu amor.

Tem Dias

Tem dias que nascem sombrios
O corpo parece que não acorda,
Apenas vaga, levado por não sei o que.

Tem dias que nem o sol ilumina
As nuvens estão por dentro
Congelando qualquer sentimento.

Tem dias que só mesmo Deus
Para tirar poesia desse monte de pedras!

Tem dias que só mesmo Deus!

Hoje

Cantarei   
Minha
Música

Onde
Houver
Silêncio

Neste
Breve
Momento,

Entre
Ontem
E amanhã.

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