domingo, 28 de dezembro de 2008

Como folha no vento...

A Vida é como uma folha no vento esperando o momento de cair...
Madrugada, no Rio de Janeiro, trabalham intensamente as impressoras de um conhecido jornal. Caminhões e mais caminhões saem em intenso frenesi, para que o noticiário chegue às mãos ávidas de seus leitores.
Inúmeras notícias estampam as páginas diariamente, hoje, assim como em todos os dias, em meio a tantas outras noticias mais importantes, há uma pequena nota no canto de uma das páginas internas, sem nenhum destaque: “Jovem empresário se envolve em acidente de trânsito, atropela pedestre e bate em árvore e os dois morrem em pleno centro da cidade.”
Duas vidas ceifadas num instante, duas vidas resumidas numa pequena nota de jornal.
Pedro saiu apressado de sua pequena casa na favela, não estava atrasado, mas a ansiedade já era um hábito. No mesmo instante Lucas acorda em seu apartamento bem decorado de frente para a praia de Ipanema. Para Pedro não houve tempo para o café, enquanto que Lucas preferia tomar o café no escritório, coisas de um workaholic solitário.
Lucas tomou a direção do seu carro importado “do último tipo”, como diria meu velho pai, e atravessou a rua sem maiores problemas, o trânsito naquele dia parecia surpreendentemente calmo. Pedro pegou o ônibus em direção ao Centro da cidade, lotado, como de costume.
Apesar do aperto no ônibus , Pedro ficou pensando no final de semana que passou com a família na ilha de Paquetá, passeio simples e barato mas que lhe fazia muito gosto, afinal de contas só de ficar em um local onde não havia barulho de carros já era uma coisa e tanto.
Lucas ,enquanto dirigia, lembrava dos dias em Angra dos Reis, balneário luxuoso, que costumava ir quase todos os fins de semana com os amigos.
Pedro desce do ônibus com certa dificuldade, mas dá um suspiro de alívio. Lucas aumenta o volume do rádio.
Pedro atravessa a rua, último limite para chegar no trabalho. Ainda no meio da rua, sem perceber um carro vem em sua direção, é o carro de Lucas que num relance de distração está cara a cara com o um pedestre desconhecido, os olhares de desespero se cruzam, motorista e pedestre, neste instante os dois são um só.
Num gesto instintivo Lucas faz uma manobra e joga o carro um pouco para a esquerda ao mesmo tempo em que Pedro, também por instinto, joga o corpo para trás e por um fio o carro e o corpo não se esbarram num acidente fatal.
Ambos prosseguem suas jornadas e suas vidas, tendo apenas este momento em comum. Não houve culpados, ambos sabem disto, mas aquela troca de olhares vai ficar na memória dos dois pra vida inteira.
Pedro completa a travessia da rua, passa na banca e compra o jornal, nem deu bola para a noticia do acidente fatal que havia acontecido naquele mesmo lugar, naquela mesma hora do dia anterior, afinal era apenas uma notinha sem muita importância.
...Naquele momento, as folhas no vento foram sopradas por uma brisa suave e continuaram a planar. Não se sabe por qual capricho do destino, nem por quanto tempo.

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